Determinação social, desenvolvimento sustentável e educação popular

(re)pensando a saúde humana e planetária

Autores

  • Luciana Santos COLLIER Universidade Federal Fluminense – UFF, Colégio Universitário Geraldo Reis – CUGR, Ensino Básico Técnico-Tecnológico. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
  • Ana Carolina Castro DOMINGUES Universidade Federal Fluminense – UFF, Instituto de Educação Física – IEF, Especialização em Educação Física Escolar. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
  • José Augusto Dalmonte MALACARNE Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Escola de Educação Física e Desportos – EEFD, Especialização em Pedagogia Crítica da Educação Física. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

DOI:

https://doi.org/10.14295/2764-4979-RC_CR.2025.v5.168

Palavras-chave:

Desenvolvimento sustentável, Determinação social da saúde, Descolonização

Resumo

Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), a trajetória da implementação da Agenda 2030 e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS apresenta avanços sutis. A conjuntura política global desfavorável tem impactado negativamente, culminando com rompimento de acordos e pactos multilaterais por governos conservadores, dificultando o avanço na concretização de alguns objetivos e levando ao retrocesso de outros. Desta forma, o alcance dos ODS, depende de uma profunda modificação do modo de produção vigente na atualidade. Transformações deste porte são complexas, demandando ações educativas, em diferentes espaços sociais, capazes de promover a descolonização dos saberes, evitando, assim, a conformação das tragédias socioambientais resultantes da política neoliberal, como se fosse um processo natural. Este trabalho teve como objetivo discutir a relação entre o alcance dos ODS da Agenda 2030 e o processo de determinação social e ambiental da saúde na conjuntura da crise estrutural do capitalismo, apostando na Educação Popular em Saúde como alternativa de mobilização para a necessária descolonização do pensamento latino-americano e consequente transformação social. Para tanto, realizou-se um ensaio teórico, de cunho exploratório e ancorado na perspectiva qualitativa de investigação, compreendendo que estes trabalhos se fundamentam em argumentos e debates sobre um tema, baseando-se em teorias – aqui, críticas – sobre um determinado assunto (relações entre o modo de produção capitalista e a saúde global). A determinação social da saúde constitui uma elaboração teórica essencial para a construção de uma ciência crítica e politicamente relevante, envolvendo processos que se caracterizam por interdependência e autonomia, expressando a contradição entre fatores promotores da saúde e insalubres. Aqui a saúde é compreendida como um objeto multidimensional e complexo, que se concretiza na dimensão geral da sociedade (envolvendo educação, renda, saneamento básico, transporte, alimentação etc.), na dimensão particular dos grupos sociais e na dimensão singular dos indivíduos em seu cotidiano. Desta forma, a determinação da saúde humana se faz pela análise do modo de produção vigente em um dado local e período histórico, bem como do grau de desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais estabelecidas entre os sujeitos.  Não por acaso, persistem as desigualdades históricas decorrentes das ações do Norte global, que moldam políticas e práticas de saúde muitas vezes desconectadas das realidades locais e de outras regiões do mundo. Esse processo é traduzido pela colonização do saber e do poder, na medida em que o modelo biomédico ocidental, construído sob bases eurocêntricas, foi universalizado como padrão único de racionalidade e de cuidado. Tal colonização não se restringe à dimensão política ou econômica, mas também epistêmica, isto é, afeta a forma como se define o que é saúde, quem produz conhecimento válido e quais práticas são reconhecidas como legítimas. Nesse sentido, as epistemologias do Sul propõem o reconhecimento dos saberes populares, tradicionais e comunitários como fundamentais para a construção de políticas de saúde mais justas, dialógicas e contextualizadas. A partir dessa perspectiva, faz-se urgente a valorização de saberes locais, a análise crítica de processos estruturais e a construção de políticas públicas de saúde que articulem justiça social, equidade e descolonialidade, no sentido da superação da exploração capitalista. Se, para a sociedade capitalista, é vital promover a exploração da força de trabalho, gerando a desigualdade e miséria, é possível afirmar que, o que o capitalismo precisa para sobreviver e progredir é exatamente o oposto daquilo que é preconizado para se ter saúde. Por este motivo, compreendemos que a concretização dos ODS está absolutamente vinculada à superação do modo de produção capitalista. Com base no pensamento marxista, o processo saúde-doença se traduz na expressão das contradições entre capital e trabalho, onde as crises ambientais não são naturais, mas consequências do modelo de produção capitalista que gera desigualdades e degrada a vida. Assim, a determinação social amplia o debate ao articular saúde, justiça ambiental e sustentabilidade, indicando a necessidade de transformar as estruturas econômicas e políticas que produzem tanto adoecimento quanto destruição ambiental. Para produzir uma teoria da transição para uma nova ordem social é necessário um esforço coletivo, que acreditamos ser possível através da Educação Popular – EP voltada para a problematização das iniquidades em saúde. A EP é conceituada como uma pedagogia dialógica e participativa, com perspectiva de classe e valorização dos saberes e tipos de conhecimentos, além de ser um movimento de natureza política, social e cultural de mobilização e de conscientização. Assim, entende a leitura do mundo – e da vida – como um ato político da prática educativa que tem por objetivo a recuperação da humanidade roubada dos oprimidos. Desta forma, reafirma-se que a EP é realizada com a intenção de lutar pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas. A Educação Popular em Saúde – EPS se constitui numa perspectiva teórico-metodológica e ético-política, presente em diferentes experiências dos movimentos sociais latinoamericanos, qualificando a politicidade e a potência pedagógica da educação popular no setor saúde. Trata-se de uma perspectiva educativa decolonial, crítica, dialógica e participativa, que estimula o desenvolvimento do senso crítico, de modo que os sujeitos busquem compreender sua realidade, problematizando e refletindo acerca da resolução dos problemas que os oprimem. As estruturas colonialistas presentes nas políticas e narrativas sobre a saúde e o bem-estar presentes nos ODS da Agenda 2030, invisibilizam saberes locais, marginalizando populações historicamente excluídas, como negros, povos originários e a comunidade LGBTQIAPN+, desconsiderando suas experiências culturais e comunitárias. Contraditoriamente, citam em suas metas a erradicação da pobreza, a igualdade de gênero e a redução das desigualdades. É urgente valorizar as epistemologias locais, reconhecer o território político e cultural da saúde e (re)construir políticas realmente sensíveis às realidades latino-americanas. No bojo dessas reflexões, defende-se a EPS como movimento educativo de resistência, fortalecendo o combate à desumanização imposta pela lógica de produção capitalista e às iniquidades sociais por ela produzidas. Assim, acreditamos na educação –de base popular–, em contextos diversos como instrumento de construção crítica, dialógica e participativa para que a população –inclusive nós– possamos superar, através da luta popular, as atrocidades pelas quais somos vítimas deste sistema perverso, cruel e exploratório.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Luciana Santos COLLIER, Universidade Federal Fluminense – UFF, Colégio Universitário Geraldo Reis – CUGR, Ensino Básico Técnico-Tecnológico. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

-

Ana Carolina Castro DOMINGUES, Universidade Federal Fluminense – UFF, Instituto de Educação Física – IEF, Especialização em Educação Física Escolar. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Estudante do Curso de Especialização em Educação Física Escolar na UFF.

José Augusto Dalmonte MALACARNE, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Escola de Educação Física e Desportos – EEFD, Especialização em Pedagogia Crítica da Educação Física. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Professor substituto da Universidade Federal Fluminense, na Faculdade de Educação, Departamento de Educação, Sociedade e Conhecimento, na área de Educação em Saúde. Professor colaborador da Especialização em Pedagogia Crítica da Educação Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre em Edução Física. Doutorando em Educação em Ciências e Saúde.

Referências

-

Downloads

Publicado

2025-12-01

Como Citar

1.
COLLIER LS, DOMINGUES ACC, MALACARNE JAD. Determinação social, desenvolvimento sustentável e educação popular: (re)pensando a saúde humana e planetária. Crit. Revolucionária [Internet]. 1º de dezembro de 2025 [citado 2º de dezembro de 2025];5:e002. Disponível em: https://criticarevolucionaria.com.br/revolucionaria/article/view/168

Edição

Seção

Jornadas, Colóquios e Anais